Desmatamento em área nobre gera polêmica em Fortaleza

  Uma grande polêmica se estabeleceu em Fortaleza por conta de um desmatamento, realizado às pressas, num terreno que pertencia ao ex-sena...

 

Uma grande polêmica se estabeleceu em Fortaleza por conta de um desmatamento, realizado às pressas, num terreno que pertencia ao ex-senador tucano Tasso Jereissati e que foi  vendido ao empresário Beto Studart. O "supressão de todas as árvores" tem autorização da Prefeitura, mas o Secretário Municipal de Meio Ambiente afirma que somente tomou conhecimento após o fato consumado.

O desmatamento acelerado, em pleno período de carnaval, 
de uma área de 10 mil metros quadrados gerou uma grande polêmica em Fortaleza. No terreno , situado no cruzamento das avenidas Santos Dumont e Senador Virgílio Távora, área nobre da capital cearense, funcionava a holding das empresas do ex-senador tucano Tasso Jereissati. O imóvel foi adquirido, há menos de um mês, pelo Grupo BS Participações, do empresário Beto Studart que ali pretende construir um centro empresarial.

Segundo a assessoria de imprensa da Secretaria Executiva Regional II, o órgão da Prefeitura de Fortaleza, fiscalizou o imóvel na segunda-feira, dia 28. Na ocasião foram apresentados o alvará de construção e a licença ambiental, emitidos pela da Secretaria do Meio Ambiente e Controle Urbano – SEMAM, autorizando a supressão de todas as árvores.

 


Em nota enviada à imprensa, o empresário Beto Studart afirma que estaria negociando com a Prefeitura “compensações sociais” para o desmatamento, dentre as quais “a adoção de uma praça da cidade, com escolha por parte do Município”. Informa ainda a nota que o grupo empresarial “já havia se comprometido a plantar, por cada árvore tombada, 100 novas árvores em Fortaleza”


Polêmica na internet

O episódio gerou grande polêmica na internet, principalmente nas redes sociais e nos comentários da matéria na versão on line do jornal O POVO sobre o assunto. Em geral os internautas criticam o desmatamento e a própria licença concedida pela SEMAM.

No site do jornal o internauta Marcos declarou: “Só existe uma palavra para isso: covardia !!!”. Já Francisco Carlos afirmou que “esta área deveria ter sido desapropriada para construção de uma praça, imprescindível para a área, conforme havia um projeto. Multa é muito pouco para este dano irreparável”. Edson Nunes é enfático: “Os poderosos mandam e desmandam”. O internauta Ahildo, tem uma interpretação para o fato: “Foram cortadas no domingo para não atrapalhar o trânsito, os fiscais da SEMAM/SEMACE e o Ministério Público, entende? A compensação será onde? Se fosse um pescador construindo uma casinha ao lado do Rio Cocó tava lascado, pelo cheiro, multa e cadeia, para criar marra e deixar de ser teimoso em viver nesta cidade”. Ainda no jornal, o internauta Rubinho fez uma previsão trágica: “E tomem 2 ou 3 prédios gigantes e uns 1.000 carros ou mais todo dia nessa área! Nossa densidade populacional, que já é maior que a de São Paulo capital, continua crescendo e a cidade, que não cresce na horizontal, sufoca cada vez mais com a verticalização e o trânsito!


Reações no Facebook e no Twitter

No Facebook a reação partiu dos arquitetos Sérgio Roberto Costa e Antonio Laprovitera, que postaram em suas páginas do site de relacionamento social a matéria do jornal O POVO, seguida de comentários. Costa postou o seguinte comentário: “O grupo Jereissati mostra seu apreço pela cidade”. Laprovitera, que também postou fotos das licenças da Prefeitura de Fortaleza foi sintético: “Sem comentários...”.

Já os amigos de ambos não foram nada econômicos nas críticas. Marcelo Pontes fez os seguinte comentário: ”Não há planejamento urbano em nossa cidade. Contudo, a PMF não dá conta nem do pouco que tem.... construíram o tal Jardim Japonês, (obra sem sentido algum pra nossa Cidade), não preserva a Cidade da Criança, o Riacho Maceió, .... Fortaleza só tem história nas Fotos. Casas deveriam ser tombadas, prédios restaurados, mas nada é feito...”. Júlia Freitas critica os grandes empresários, insensíveis à preservação ambiental: “Era do Tasso, mas foi comprada pelo Beto Studart em 2009. Ambos responsáveis pelo crime contra a natureza. Já são milionários, juntaram e juntarão mais alguns trocados, mas essa riqueza não vai além túmulo. E a natureza viva, essa sim, é um legado para toda a humanidade. Inclusive para as gerações que virão de suas próprias famílias. Sensibilidade e responsabilidade ambiental não estão no vocabulário deles...”. Já Fernanda Uchôa alerta para a função social da propriedade: “Não e assim não!!! Desculpe-me, mas mesmo dentro de propriedade privada o cidadão não pode fazer tudo o que quer. Há lei municipal sobre isso. E a Constituição Federal prevê a função social da propriedade.” O próprio Laprovitera faz uma sugestão: “Que tal se o terreno fosse decretado de utilidade pública, desapropriado pelo preço avaliado do IPTU e transformado em praça?”

No twitter também houve protestos e uma tentativa de explicação do Secretário de Meio Ambiente de Fortaleza, Deodato Ramalho. Para Hamilton Nogueira “Fortaleza já deu muito poder político e dinheiro ao Tasso. Bem que ele poderia ter dado aquele quarteirão para Fortaleza fazer uma praça”. Na opinião do ambientalista e vereador do PSOL, João Alfredo, “foi um ato de ignorância, abuso, desrespeito e covardia essa derrubada das árvores! Criminoso!”. Também no microblog o arquiteto Antonio Laprovitera deixou sua sugestão : “Que tal se o terreno fosse decretado de utilidade pública, desapropriado pelo preço avaliado do IPTU e transformado em praça?”. Como o fato aconteceu em Fortaleza, capital do Ceará, terra de muitos humoristas, um tuiteiro repercutiu a gaiatice do Seu Manuel, jardineiro que trabalho nas proximidades do terreno desmatado, para quem a derrubada das árvores aconteceu “"às escondidas, que nem fizeram no Banco Central...".


Secretário sem informações

Surpreendente, porém foram as “tuitadas” do Secretário de Meio Ambiente e Controle Urbano de Fortaleza, Deodato Ramalho, demonstrando que não tinha informações sobre a tramitação do processo no órgão que dirige. Por duas vezes isso fica muito claro. Na primeira Deodato afirma: “Pela noticia o fato, possivelmente ilegal, ocorreu em pleno feriado de carnaval. Amanhã #SEMAM fará vistoria no local”. Mais adiante é preciso quanto ao dia em que tomou conhecimento do fato: “Assim q tomei conhecimento (domingo) mandei #SEMAM verificar. Você acha q temos como vigiar todo mundo 24h p dia?”. Mais adiante o secretário responde ao vereador João Alfredo sobre a existência de autorização da SEMAM em três tuitadas seguidas: “Deixei claro que não tinha a info completa, como ainda não tenho. Agora dizer que a #SEMAM autorizou devastação eu desco- conhecer q todo alvará, em área privada, tem os limites postos na lei. O que não acho justo eh essa afirmação antes de sa- saber os dados do processo. Mandei a equipe da #SEMAM não tenho como saber, de cor, sobre todos os processos”.

O episódio ainda deverá gerar muita polêmica na cidade ainda mais porque envolve novamente o empresário e ex-senador tucano Tasso Jereissati, que há alguns anos esteve envolvido noutro fato semelhante quando construiu, também autorizado pela SEMAM, um centro empresarial na área de preservação do Rio Cocó. Outro fato que também tem sido lembrando é a aquisição pela Prefeitura de Fortaleza da área conhecida como Campo do América, situada num chamado bairro nobre da cidade, que pertencia ao INSS e onde o poder público pretende construir um equipamento de esporte e lazer. Neste caso houve uma mobilização social em favor da área que contou com o apoio dos poderes públicos, o que não se viu no caso do desmatamento.  A prefeita Luizianne Lins, que acaba de cumprir dez dias de licença médica, deverá ter muitas dores de cabeça com mais esta polêmica na cidade que está sob sua responsabilidade.


Da redação local, com informações do jornal O POVO.


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